Início > Conteúdo do Curso > Direitos da criança
Conteúdo do curso

História em áudio: Enviada para casar-se aos doze anos

Ouça com fones de ouvido para obter a melhor experiência. Ao ouvir a história de Rutendo, pense se alguma parte da vida dela – seus sentimentos e experiências – lembra sua própria vida ou faz lembrar alguém que você conhece. Algo semelhante aconteceu com você ou com alguém próximo? Atenção!

Girl detail.
Rutendo, do Zimbabwe, foi privada de todos os seus direitos ao se casar com apenas 12 anos de idade.

Download the audio file to your device.

Baixe o arquivo de áudio no seu dispositivo.

Rutendo teve muitos de seus direitos violados desde muito cedo: “Muitas vezes, passávamos dias inteiros sem ter o que comer. As crianças da escola começaram a caçoar de mim e me chamar de pobre”, diz ela.

“Éramos uma família feliz. Embora não tivéssemos muito dinheiro, pelo menos eu podia ir à escola”, continua Rutendo. “Mas, quando meu pai morreu, não tínhamos mais condições de pagar minhas propinas escolares, então a professora me mandava para casa. Isso acontecia todo semestre. E eu chorava toda manhã ao ver meus amigos indo para a escola”.

“Quando tinha dez anos, Rutendo teve que ir morar com outra família, conhecida de sua mãe. Lá, ela tinha que varrer, lavar, cozinhar e buscar água e lenha, de manhã à noite. E, ao completar doze anos, Rutendo descobriu algo que a chocou. A senhora para quem ela trabalhava disse que seu marido decidira se casar com Rutendo. Ela se tornaria sua segunda esposa. O homem já havia pedido à mãe de Rutendo, e ela concordara”.

“A senhora me disse: ‘De agora em diante, você tem que fazer tudo que meu marido mandar’”, lembra Rutendo. “Eu não conseguia acreditar que minha mãe tinha concordado com aquilo. Eu chorava todos os dias e, às vezes, tinha a sensação de que não queria mais viver”.

Tão doloroso

O casamento infantil é proibido pela convenção dos direitos da criança da ONU, e ilegal no Zimbabwe e na maioria dos países do mundo. Porém, ele acontece. Às vezes, os adultos justificam dizendo que querem seguir tradições antigas. Às vezes, é por causa da pobreza e da pressão do ambiente.

“Quando perguntei por que minha mãe havia concordado, ela chorou também”, continua Rutendo. “Ela disse que não era possível recusar, porque o homem pagou as propinas escolares dos meus três irmãos mais novos. Entendi que foi apenas uma forma de ele chegar até mim”.

A melhor amiga de Rutendo, Precious, disse-lhe para fugir e denunciar o homem à polícia. Mas Rutendo respondeu que não ousava – que não tinha para onde ir. “Quando eu tinha treze anos”, lembra Rutendo, “ele me forçou. E, aos 15 anos, eu já estava grávida do meu segundo filho”.

Agora, Rutendo não tinha mais direitos, e sua vida era muito difícil. Porém, quando o homem se casou pela terceira vez, a velha avó de Rutendo ficou farta. Ela foi buscar a neta e a levou para casa. E, desde então, Rutendo mora com os avós, junto de seus dois filhos. “Dói muito ver meus amigos indo à escola, enquanto eu tenho que cuidar dos meus filhos e trabalhar como empregada doméstica na casa de outras pessoas”, diz Rutendo. “Mas agora consegui fazer um curso de costura de roupas, então as coisas estão melhorando. Tenho uma máquina de costura e alguns tecidos, então posso começar a trabalhar como costureira”.

O sonho de Rutendo é voltar a estudar e, um dia, ser advogada. Ela diz que quer ajudar outras crianças que perdem seus direitos da mesma forma que ela. “Queria ter denunciado aquele homem à polícia”, diz Rutendo. “Talvez isso tivesse me salvado do casamento infantil. Mas agora sou eu quem sustenta minha família, e mando meus dois filhos à escola. Isso é o mais importante para mim”.