Para a melhor experiência, use fones de ouvido. Ao ouvir a história de Ndale, pense se alguma parte da vida dele – seus sentimentos e experiências – lembra a sua vida ou faz lembrar alguém que você conhece. Algo semelhante aconteceu com você ou com alguém próximo?
Atenção! Observação, o material contém representações de violência. Tome cuidado!
"Crianças-soldado" libertas na República Democrática do Congo queimam seus uniformes.
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Quando Ndale era pequeno e vivia numa pequena aldeia na África Central, algo terrível aconteceu. Ele conta: “Era um dia perfeitamente normal. Estávamos atrasados para a escola, então pegamos um atalho pela floresta. Éramos seis”.
“De repente, ouvimos alguém gritando, e depois vimos dois homens de uniforme e armados. Um deles disse: ‘Sabem, neste país não temos soldados suficientes, então vamos levá-los. Vocês devem nos ajudar’”.
“‘Mas estamos a caminho da escola!’, eu disse.
“Escutem, rapazes! Se vocês recusarem, os mataremos imediatamente!’”.
Ndale morava na República Democrática do Congo, onde conflitos armados, guerras e violência ocorrem há décadas. Lá, crianças muitas vezes são raptadas por vários grupos armados e forçadas a lutar como soldados. Muitas crianças e suas famílias foram mortas, feridas ou traumatizadas. Aldeias foram incendiadas e campos destruídos. Dezenas de milhares de crianças foram raptadas e forçadas a lutar como soldados. Agora, Ndale estava prestes a tornar-se um deles.
Quando ele e seus amigos encontraram os soldados adultos naquele dia terrível, ele tinha apenas 11 anos. “Fiquei com muito medo e pensei na minha mãe e no meu pai”, continua Ndale. “Ficamos três dias sem comer nem beber. Não tínhamos permissão para conversar entre nós. Eles queimaram nossos uniformes escolares. Depois, um comandante veio até mim com um uniforme militar e uma arma e disse: ‘esta é a sua caneta agora. É hora de você aprender a matar pessoas’.
O homem apontou para uma árvore e disse às crianças para fingirem que era uma pessoa. Em seguida, ele disse:
‘Certifiquem-se de atirar direto no coração’”.
Pouco tempo depois disso, Ndale foi acordado no meio da noite.
“Disseram que tínhamos que lutar”, lembra ele. “Não consigo nem explicar o quanto fiquei assustado. As pessoas gritavam e ouvíamos o som de balas zunindo. Quando tentei me esconder, os soldados adultos me empurraram para frente. Eles disseram: ‘Não importa se seu amigo morre. Basta passar por cima dele. É o seu dever’.
Dois dos meus amigos foram mortos naquela primeira vez”.
Seguiram-se então três anos de guerra, marchas e grande sofrimento. As crianças sempre eram obrigadas a ir na frente. Desta forma, tornavam-se as primeiras vítimas em confrontos com outros grupos armados. “A coisa toda parecia um pesadelo, mas era real”, diz Ndale.
Um dia, Ndale viu subitamente uma oportunidade de escapar. Ele e um amigo conseguiram fugir e se esconderam na floresta. Depois, começaram a caminhar em busca de ajuda. Eles abandonaram suas armas. “Fiquei muito feliz”, diz Ndale, “fomos a um lugar onde ouvimos dizer que crianças-soldados estavam a ser libertadas e apoiadas. Um herói dos direitos da criança, Murhabazi Namegabe, nos acolheu lá. Ele nos ajudou a queimar nossos uniformes militares e, em vez disso, nos deu uniformes escolares! Minha vida finalmente havia recomeçado!”
“Farei o meu melhor para impedir o recrutamento de crianças-soldado”, afirma Ndale. “Os adultos devem lembrar que também foram crianças um dia”.
Após o ensino médio, Ndale queria lutar pelos direitos da criança. Ele se inscreveu no curso de Direito e, depois de estudar muito durante muitos anos, formou-se recentemente!
“Como advogado”, explica Ndale, “serei capaz de ajudar crianças cujos direitos foram violados em conflitos armados e guerras”.