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História em áudio: Da escola à caça furtiva

Use fones de ouvido para obter a melhor experiência. Enquanto ouve a história de Paulo, pense se alguma parte da vida dele – seus sentimentos e experiências – lembra sua própria vida ou faz lembrar alguém que você conhece. Algo semelhante aconteceu com você ou com alguém próximo? Atenção!

Aviso: Este material contém representações de violência. Tome cuidado!

Paulo, de Moçambique, abandonou a escola aos 13 anos para se tornar caçador furtivo e atirar em animais selvagens. Agora, ele quer parar!

Baixe o arquivo de áudio no seu dispositivo.

Luís tem doze anos e vive numa aldeia perto do Parque Nacional do Limpopo, em Moçambique. “Muitos rapazes da minha idade na aldeia não vão à escola. Em vez disso, tornam-se caçadores furtivos. Eles cometem crimes quando matam animais selvagens só para ganhar dinheiro”.

“Penso que os direitos destes rapazes são violados quando seus pais lhes dizem para disparar contra os animais em vez de irem à escola”, continua Luís. “Na verdade, é muito perigoso. Eles podem ser baleados ou levados por rangers, e ir para a prisão”.

Luís diz que muitas crianças, principalmente aquelas que não vão à escola, não entendem a importância de proteger os animais selvagens e a natureza. “Um dia, todos os rinocerontes desaparecerão e os caçadores furtivos não conseguirão mais ganhar dinheiro caçando”, diz Luís. “Precisamos espalhar esse conhecimento para todos.”

Da escola ao crime

Um dos meninos de quem Luís fala é Paulo. Ele abandonou a escola cedo e começou a caçar, para ajudar sua família a sobreviver. “Abandonei a escola quando tinha 13 e comecei a caçar em tempo integral. Parecia tão inútil continuar na escola porque, de qualquer maneira, não há emprego onde moramos”, diz Paulo. “Mas agora estou farto. Muitas pessoas estão sendo mortas, tanto caçadores furtivos quanto rangers. A caça furtiva deve ser interrompida”.

Paulo diz que seu povo sempre caçou para sobreviver. É um modo de vida; eles são simplesmente caçadores. “Acho que é por isso que muitos de nós continuamos a caçar, embora agora seja ilegal”, continua ele. “É assim comigo. Meu pai e meu avô são caçadores. Eu simplesmente faço a mesma coisa que eles”.

“Caço com meus cães no parque nacional desde os 10 anos de idade. É a nossa forma tradicional de caçar. Levanto-me cedo, pego meus onze cães e saio com meus amigos. Caçamos antílopes e outros animais menores, mas estamos atentos aos rangers que protegem o parque”.

“Nunca esquecerei uma manhã bem cedo, quando tinha 14 anos”, diz Paulo. “Havíamos rastreado um antílope, e eu mandei os cães atrás dele. De repente, eles foram cercados por rangers, e eu me escondi no mato”.

“Os guardas atiraram e mataram três dos meus cães para proteger o antílope. Eu fugi o mais rápido que pude. Mais tarde, quando voltei sorrateiramente, vi que até os cães que sobreviveram haviam sido baleados com balas de borracha. Mas esta está longe de ser a única vez que os rangers nos descobriram no parque nacional. Uma vez, prenderam meu amigo e ele teve que passar dez meses na prisão”.

“Mas a caça não é apenas uma questão de tradição”, diz Paulo. “Muitas pessoas caçam por dinheiro, devido ao desemprego aqui. Meu pai e seus amigos também caçam no parque, mas atiram em rinocerontes. Eles estão atrás de seus chifres, que podem ser vendidos por muito dinheiro. Mas, hoje em dia, têm de atravessar a fronteira para a África do Sul, porque os rinocerontes aqui em Moçambique estão quase completamente extintos”, afirma Paulo. “As pessoas pagaram por todas as belas casas e carros da nossa aldeia matando rinocerontes. Os pais dizem aos filhos que é o único caminho, se não quiserem continuar a viver na pobreza”.

“Quando meus cães foram baleados pelos rangers, fiquei zangado e triste”, continua Paulo. “Daqueles que sobreviveram, tive que retirar balas de borracha dos corpos... foi horrível. Mas agora entendo que os rangers fizeram apenas seu trabalho – e o fizeram bem. Eles queriam apenas proteger os animais selvagens e me fazer parar de caçar furtivamente”.

Antes, o plano era que Paulo também fosse à África do Sul caçar rinocerontes com o pai. “Mas mudei de ideia. Meu pai também mudou, pois teme que eu seja morto ou vá para a prisão. Porque isso é realmente perigoso”.

Paulo diz que os rangers aumentaram a segurança, e muitas pessoas da sua aldeia foram mortas. “Muitos rangers também morreram. É como uma guerra. Parece errado; a caça furtiva é um crime, e deve acabar”.

Paulo, hoje com 16 anos, diz que não quer mais ser caçador furtivo. “Aprendi que temos que proteger os animais selvagens”, diz Paulo, com firmeza. “Caso contrário, eles serão extintos, como os rinocerontes aqui em Moçambique. Agora, acho que as pessoas que fazem a coisa certa são legais, como os rangers. Quero ser como eles, e não como um caçador furtivo”.

“Os rangers fazem um trabalho muito importante”, diz Paulo. “Mas”, continua ele, “preocupo-me em não conseguir um emprego como esse, porque abandonei a escola muito cedo. Meu maior desejo é continuar minha educação e fazer algo bom da minha vida”.